24 dezembro 2008

_oi!
_hello!

a primeira ligação telefônica (afetiva) internacional. é tempo de desejar um cínico feliz natal. cínico porque não há natal feliz se você tem que fazer um ddi afetivo.

22 dezembro 2008

hoje vi igor pela última vez. não a última das vezes de nossas vidas pela frente, mas possivelmente a última em muitos meses (um ano talvez?). agora me perco em lembranças, adjetivos e fatos que poderiam descrever a relação que criamos nos últimos cinco anos, desde aquela chapa formada em 2003 para as eleições do centro acadêmico de comunicação social da ufes.

não sei se fui legal o suficiente pra retribuir tudo o que ele fez por mim, mineiro acostumado a esses favores tão simples, mas relativamente custosos, como dar carona às seis da manhã de um sábado para a estação ferroviária. sei que durante um tempo ele ocupou um quarto vago daqui de casa com sua ilha de edição, tendo a chave do apartamento (e isso é uma prova de confiança incontestável para qualquer taurino).

todos os grandes amigos estão de saída. fica minha saudade, um desejo de que as coisas dêem certo e a certeza de que, entre todos, o igor faz o que poucos de nós, os outros e medíocres, tivemos coragem de fazer, em menor ou maior escala: apostar todas as fichas naquilo que ama.

12 dezembro 2008

régis rosing, mário bonella... tudo que eu teria a dizer sobre certo jornalismo (pretensamente) poético da televisão brasileira está aqui.

Hermes e Renato no auge! Charlinho Style!

05 dezembro 2008

já tinha visto aqueles olhos. árabes olhos que passeavam pela rua, faziam compras no supermercado e dançavam rock nas noites da cidade. desejou com toda força tê-los por perto. agora os tinha. os olhos e a moça, dona deles. a moça de árabes olhos lindos porque grandes e pretos, delineados por ainda mais pretos lápis que cobriam suas pálpebras. "deveria dormir de olhos abertos!", ele sugeriu.

14 novembro 2008

links aleatórios de cousas quiçá interessantes/animadas/bonitas/e tão aleatórias quanto seus próprios links que ando visitando e escutando nesses dias de dor de garganta/tempo nublado/temporais.


Eli Paperboy Reed: ele pensa que é o Otis Redding do século XXI
Russian Red: em verdade vos digo que gosto mais das fotos da moça madrileña
Emiliana Torrini: músicas lindinhas e ora inventivas, ótimas ambientações instrumentais criadas por essa islandesa, principalmente o disco Me and Armini.
Los Álamos: gaitas de blues, banjo folk e uma levada country se encontram em Buenos Aires com um lamento vocal e guitarras etéreas no sensacional El Fino Arte de la Venganza.
Maria Bethânia: o disco de 1972, com Iansã, Trampolim e Volta por Cima é fundamental (perdi o link que baixei, droga!).

01 novembro 2008

no grande prêmio brasil desse domingo, rubens barrichelo tem a chance de dar ao povo brasileiro mais do que nunca foi capaz em, sei lá, 15 anos de fórmula 1. perdedor nato, loser supremo das pistas, subordinado de schumacher durante anos, capaz das derrotas mais improváveis, rubinho deve, ao menos, oferecer ao povo a derrota de hamilton, após um discreto e insuspeito acidente quando o inglês tentar ultrapassar o eterno retardatário brasileiro. nada que abale sua imaculada carreira como piloto-chorão, apenas a confirmação de seu patriotismo, concretizado com um lugar entre os mártires da nação.

24 outubro 2008

Querido diário,

hoje eu aprendi mais uma lição do jornalismo: abrir mão de uma entrevista divertida, com o líder de uma banda internacional, em função do dead line. Ok, ingenuamente eu acreditei que fosse possível, que o horário de fechamento poderia ser alargado até o máximo da intolerância da gráfica em nome da arte, mas não foi bem assim. O resultado? Uma matéria facilmente esquecível na capa de sábado, desanimada e sem sal. E no blog, assim que eu conseguir traduzí-las, um esforcinho que acabou valendo a pena: algumas perguntas enviadas ao Eugene Hutz, do Gogol Bordello, há muitos dias, talvez na segunda, e só respondidas agora, 18h30 de sexta, quando o ucraniano maluco já está no Rio de Janeiro.

12 outubro 2008

é hora de repensar toda sua existência pregressa e ensaiar com cuidado os próximos passos quando os dois adjetivos usados para te descrever são "cabeça dura" e "heterossexual".

05 outubro 2008

A apuração das eleições brasileiras ficou ainda mais emocionante com o software do TSE que te permite acompanhar tudo em tempo real! Só não é mais divertido que a apuração do carnaval carioca porque sinto a falta da voz daquele narrador oficial da Liga.

Na minha análise, o resultado mais significativo dessa eleição foram os 868 votos que Mamãe recebeu na disputa por uma vaga na câmara de Vila Velha.

Em Manhuaçu, Nat King Cole contava 120 votos de confiança com 98% das urnas apuradas, como bem chamou minha atenção a dona Amelie. Por lá, uma varredora de rua, Nicolina, teve 1188 votos e chegou na nona posição geral e primeira suplente da coligação.

29 setembro 2008

#1 nossas avós estão se acabando antes que nos dêem tudo que sabem, antes que eu ouça todas as histórias e me irrite com seus lamentos. os amigos de infância estão se casando, se juntando e fazendo planos. antes mesmo que eu planeje o dia seguinte ou rejeite a solidão.

#2 ouvindo Belchior. chorando Belchior. roteirizando Belchior.

08 setembro 2008

Sexta-feira, em um sebo, me senti obrigado a adquirir duas obras raras: "O Reino dos Medas" (1971) e "As Mãos no Fogo: O Romance Graciano" (1984), ambos de Reinaldo Santos Neves. E isso me fez lembrar algumas coisas.

Além dos adjetivos compostos de melhor autor de romance confessional, um dos maiores escritores brasileiros e o melhor escritor que já produziu (e vem produzindo) obras em Vitória, Reinaldo pode se orgulhar de outros dois feitos.

O primeiro deles é a sensacional epígrafe de "Sueli: Romance Confesso" (1986), que diz:
"Eu sou eu
Eles são eles
Sueli é você"
Mais direto impossível.

Outra glória é a orelha de, se não me engano, "Kitty aos 22: Divertimento" (2006), na qual começa dizendo ter jurado nunca mais escrever orelhas de livros pra ninguém e por isso não poderia pedir pra outro escrever a do seu. Divertimento!

Comecei a ler os "Medas" e, cara, é impressionante o que Reinaldo faz com as letras. Como escreve esse seu primeiro romance em um ritmo alucinante, com repetições, de palavras, frases, idéias, que nunca soam desnecessárias, mas só contribuem para criar o clima delirante de um grupo de amigos que vive a loucura e a diversão de várias noites e dias, mas uma noite em especial: a do suicídio de um deles.

Pelo menos é isso o que está nas primeiras 68 páginas. E 68, nesse caso, significa mais que um número no rodapé da folha.

23 agosto 2008

ultra-violência olímpica

Meu ódio irracional e minha raiva desumana se apresentam em raros momentos, quando se convertem em ultra-violência gratuita. Meu semblante aparentemente tranqüilo esconde um poço de ignorância pronto para transbordar em hora oportuna como, por exemplo, sendo vítima de injustiça futebolística nas peladas de terça-feira à noite. Mas meus amigos sabem disso e ainda tentam beber cerveja comigo depois dos jogos. A tal injustiça é considerada, claro, sob minha análise egoísta, que boa dose de raiva não vem senão acompanhada de uma teimosia atroz.

Fora essas ocorrências cotidianas, todo meu rancor está concentrado em um só ponto da história recente, quando, há quatro anos, Vanderlei Cordeiro de Lima corria na frente em uma das prova mais nobres dos jogos olímpicos. Naquele maldito domingo, eu esmagaria a cabeça do ex-padre irlandês no meio-fio grego da calçada de Atenas.

Talvez isso não importe mais a Vanderlei, mas os pesadelos em que um homem de saia me abraça são recorrentes e não apagam em mim a vontade de ver uma poça de sangue escorrer daquele maldito europeu que estragou a maior vitória olímpica que esse país de merda teria. E quatro anos depois eu também tenho raiva do maratonista que continuou correndo depois de ser agarrado! Espírito olímpico é o caralho! Estourasse de porrada aquele idiota!

E quatro anos depois a maratona se repete. Vanderlei não corre e talvez nunca mais correrá. O melhor brasileiro está em 19º lugar! E aquele ex-padre, cadê?

18 agosto 2008

Silvio Luiz é Deus! Nada supera o prazer de acompanhar as Olimpíadas de Pequim na Band.

"Atenção que os morcegos vão começar a sair no Brasil. Meia-noite sai tudo voando".

"Álvaro José, tô vendo umas bicicleta na parada!", chamando o triatlo

"Você está acompanhando tudo em aaaaaaiiiiiiiiiiiii definition", sobre a transmissão da Band em HDTV.

"O pano-boy entrou em ação", sobre o cara que enxuga a quadra.

Tudo isso em 10 minutos de Brasil e Espanha no handebol masculino.

03 agosto 2008

carro derruba casa no interior de Minas Gerais

quantos adjetivos a gente pode usar pra definir isso?

web 2.0, interatividade, jornalismo colaborativo...

mais informações aqui.

18 julho 2008

só uma palavrinha

#1 degredado. ouço e me lembro das aulas de história da sexta série, dos poetas mineiros exilados na África após o fracasso da Inconfidência Mineira. degredado. digo e quero soar como Tomás Antônio Gonzaga sofrendo por sua Marília longe das Gerais.

quero mas não consigo. Domingos Martins fica a poucos minutos de Vitória e, enviado a trabalho, meu motivo está distante de qualquer glória revolucionária.

#2 a primeira inserção no rádio a gente nunca esquece. espero que minha voz ao telefone seja agradável.

#3 a cobertura do Festival Internacional de Inverno de Domingos Martins e muitas outras coisas, todo mundo pode ver, ler e ouvir no 2narede, novo projeto que reúne Vitor Lopes, Tatiana Wuo e eu, que não gosto de falar de Vitor Graize na terceira pessoa.

26 junho 2008

anotaí na agenda

Terça (01): Coloco música na festa Soul Out da Pastelaria (Praia do Canto), junto com os DJs Bolzan e Pedrada. Rola soul, r&b, funk e afrobeat a partir das 20h até as 2h.
Sexta (04): Fê Paschoal e os Expurgadores, já falei deles lá embaixo, fazem show na noite do Mercatto Donna Lôra (Praia do Canto). Também rola artes plásticas e vídeo. Sensacional!

16 junho 2008

Ontem, em Ouro Preto, Rodrigo de Oliveira escrevia dedicatórias nas primeiras páginas do livro de artigos sobre o filme Serras da Desordem, sentadinho ao lado do diretor Andrea Tonacci, em uma tarde de lançamento. Exatos 6 anos após o primeiro copo (de plástico) meio cheio (ou meio vazio) de vinho que brindamos, no quinto dia de Ufes, em uma calourada inesquecível (tive noção dessa data redonda justamente agora e quase choro em uma videolocadora com 5 computadores e internet perto da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar). Naquele tempo, 1) ele andava com o Bloco do Eu Sozinho e fitas VHS cheias de Woody Allen debaixo do braço; 2) ganhou nota 10, acompanhada de um "já é um crítico" escrito pela professora no pé da página, em uma resenha de "Amnésia" para a disciplina de Língua Portuguesa; 3) ainda não mantinha a famosa Casa de Loucos; e 4) participava de um projeto frustrado de um site (Mösha) comigo, Rodrigo Melo e José Azevedo, onde assinava seus textos com tiradinhas divertidas do tipo "é estudante de jornalismo e adora os filmes da sessão da tarde". O que ele faz agora (andar por aí acompanhado de críticos renomados, historiadores do cinema brasileiro e diretores promissores) eu não preciso contar, mas de vez em quando separa um tempo para os amigos, entre um longa e outro, em festivais de cinema pelo país, para um café corrido ou uma cerveja com samba.

10 junho 2008

chegou a hora de encarar o que eu escrevia com 17 anos de idade. uma agenda de couro marrom onde anotei todos os meus gastos (das passagens de ônibus às cervejas, ainda parcas) em 2000. nessa época eu morava em belo horizonte, fazia terceiro ano à tarde e tinha o bom costume de andar do colégio até a casa de um tio, onde dormia rodeado por literatura e livros de direito (dali tirei e li uma daquelas viagens do carlos castañeda e dois de três livros do jorge amado sobre os comunistas na era vargas). no caminho que ia da timbiras, no funcionários, até a desembargador alfredo de albuquerque, no santo antônio, eu subia a joão pinheiro, com seus casarões antigos e a lanchonete xodó, até a praça da liberdade. volta e meia eu desviava meu curso e ia parar no cine belas artes, pegava uma sessão gratuita de curtas às 18h ou assistia a algum filme sozinho, lembro muito bem de Estorvo, do Ruy Guerra, e de como saí chapado (era o início de uma "educação cinematográfica"). quando não tinha dinheiro ou saco para ir ao cinema, seguia em frente aproveitando o movimento das pessoas que andavam na praça no fim de tarde fresco da cidade, sempre olhando para o lado esquerdo, onde via as curvas do edifício niemeyer. naquele ano, o itamar franco, então governador, decidiu enfrentar fernando henrique cardoso com a artilharia pesada da polícia militar de minas gerais. do alto do palácio da liberdade, atiradores de elite miravam não sei o quê à frente, um tanque ficava estacionado próximo ao muro lateral e uma barraca de lona armada no jardim servia como abrigo às discussões sobre o rumo da batalha (ou eu acabei de inventar todas essas imagens?). acho que não! depois de cruzar um pedaço da savassi, passava em frente ao café com letras (não tinha nem um tostão para gastar ali) e às vezes esticava até o unibanco savassi, salinha miúda onde vi, com minha mãe, em 1996 muito provavelmente, "Segredos e Mentiras", do Mike Leigh. o napster mal tinha começado e na mesma rua havia uma locadora de cds. uma vez loquei o "The battle of Los Angeles", do Rage Against the Machine, e o "There is nothing left to lose", do Foo Fighters. sempre gostei mais do rage e entre os 17 e os 18 minha preferência era o que eu rotulava como rock político. nessa etiqueta eu colocava dead fish, rage, chico science e nação zumbi, o rappa e... que merda de rótulo eu fui inventar? a avenida do contorno eu atravessava em frente a um sex shop e seguia um quarteirão na leopoldina, rua famosa pela vaquinha que já mudou de roupa várias vezes. virava à direita e, pronto, tava em casa. se eu quisesse outra experiência urbana, eu seguia pela rua da bahia direto, um quarteirão acima da joão pinheiro, e passava por mil bares e cafés que se enchiam de gente, até chegar à contorno, mas esse percurso eu raramete fazia. isso tudo não importa a muita gente, importa dizer que eu escrevia mal. na agenda restam três textos de tamanho médio e alguns comentários. esses reativaram a memória que já ia se apagando: "Show no Expresso da Meia-Noite. Putrifocinctor (punk), Slush e Mel Azedo (banda do Tingles)... doido demais". Expresso era um bar fechado, com sinuca no primeiro cômodo e um palco nos fundos e Tingles, um amigo de amigos. sua banda tinha dois hits absolutos: "Beco sem saída" e "Vovó matou o neném". mais do que títulos para as músicas, essas eram as frases repetidas à exaustão na velocidade dos refrões grudentos e inesquecíveis ("eu entrei num beco sem saída, eu entrei num beco sem saída"). isso foi em 20 de maio. oito dias depois fui a Lagoa Santa explorar umas cavernas. estalactites, gmites, desenhos rupestres, essas coisas. depois escrevi: "curso de espeleologia: do caralho. Laura, espeleóloga...". nem precisa dizer, era uma estudante linda de geografia da ufmg. na agenda também estavam tíquetes de cinema (apenas 3, de um shopping. o belas artes, como o metrópolis, não deixava recordações em papel), ingressos de shows e festivais de colégio (naquele ano fui a 4, sensacionais. assisti diesel, hoje udora, em 2, somba em outro e mil outras bandinhas divertidas). foi minha primeira e única tentativa de um diário que nem era tão diário assim. abandonei as agendas para fins de recordação e daqui a alguns anos, quando tiver que jogar alguma coisa fora para limpar espaço na memória, terei apenas que apagar alguns posts desse blog.

04 junho 2008

"As mulheres são putas assassinas, Max, são macacos enregelados de frio que contemplam de uma árvore doente o horizonte, são princesas que procuram você na escuridão, chorando, indagando as palavras que nunca poderão dizer"

Trecho do conto "Putas Assassinas", que dá nome ao livro de Roberto Bolaño

01 junho 2008

"Let's Dance", do David Bowie. Essa foi a música que mais tocou nas rádios norte-americanas, segundo a Billboard, no dia 18 de maio de 1983.

Agora clique aqui e saiba qual foi a #1 no dia em que você nasceu!

28 maio 2008

vamos brincar assim: aqui eu tento fazer o que, lá fora, chamam literatura.

27 maio 2008

jazz e blues II*

Se nos dois anos anteriores, o Rio das Ostras Jazz e Blues Festival preferiu os instrumentos de sopro (apresentando Ravi Coltrane, James Carter e Wallace Rooney, entre outros), a sexta edição do festival, que começou na quarta e foi até o último domingo, teve como atrações principais músicos que criam sua arte nas cordas.

Mas o festival foi além do violino de Regina Carter e das guitarras de Russel Malone, John Mayall & The Bluesbreakers, James “Blood” Ulmer, Vernon Reid e John Scofield. Foram 18 atrações e 25 shows em cinco dias, uma maratona de improvisações jazzísticas, bluesmen empolgados, artistas encantados com o público e platéia enlouquecida em apresentações gratuitas.

A maior supresa veio de New Orleans (EUA), terra do blues, com uma proposta de renovação do estilo. Como uma tropa de choque postada à frente do palco, a linha de quatro trombones do Bonerama, com o suporte de bateria, guitarra e uma tuba, deu um show de energia passeando por músicas tradicionais, inéditas e releituras de “The Wizard”, do Black Sabbathe, e “The Ocean”, do Led Zeppelin, dois dos riffs mais conhecidos do rock’n’roll.

“New Orleans é ótimas! E está ficando melhor!”, disse Craig Klein, um dos líderes do Bonerama, no palco da Praia da Tartaruga na sexta-feira à tarde, para uma platéia surpresa com as distorções de um trombone eletrificado. Em seu instrumento, um adesivo dizia “ReNew Orleans” (trocadilho com renove New Orleans).

O pai do blues britânico John Mayall, 73 anos, à frente da banda The Bluesbreakers, era sem dúvida a atração mais aguardada. Mas seu show esteve longe de ser o melhor. O músico se irritou com um teclado misteriosamente desprogramado e o que se viu foram momentos de tensão resolvidos sob o olhar angustiado dos fãs. Com Mayall longe da guitarra, quem se destacou foi Buddy Whittington.

John Scofield, por sua vez, abriu o show com “House of the Rising Sun”, um blues tradicional gravado por vários artistas (Bob Dylan, entre eles, em 1962), que está presente em seu “This Meets That” (2007), disco no qual baseou a maior parte do repertório dos dois shows.

Acompanhado por baixo elétrico (do aclamado Steve Swallow), bateria e um trio de metais, Scofield fez um show extremamente técnico e introspectivo que fez apenas uma concessão ao público: “(I Can't Get No) Satisfaction”, dos Rolling Stones, que fecha seu mais recente lançamento. No encerramento do festival, domingo à tarde, Scofield tocou para uma platéia distante, impedida de se aproximar do palco da Praia da Tartaruga pela maré alta.

“The master of disaster!”, anuncia Vernon Reid, guitarrista do Living Colour. E só então James “Blood” Ulmer sobe ao palco de Costazul, no sábado à noite, para, sentado em uma cadeira, executar clássicos do blues com o dedilhado mais cool do festival. Um dos poucos e grandes nomes da guitarra na vertente conhecida como free jazz, Ulmer tem se dedicado ao blues elétrico moderno nos últimos anos.

Em duas apresentações, Ulmer executou em sua guitarra canções clássicas de Willie Dixon, John Lee Hooker e Muddy Watters, do disco “Memphis Blood: The Sun Sessions” (2001). O álbum foi produzido por Reid, daí a explicação para sua participação especial. Sem a rigidez dos protocolos, o guitarrista fez o melhor show do festival na Lagoa de Iriry, domingo à tarde, com solos de guitarra desconcertantes e refrões cantados a plenos pulmões.

*sem a edição do Caderno2 de hoje.

23 maio 2008

jazz e blues I

"já ouvi esse disco mais do que a minha própria voz!". essa comparação eu inventei ontem no final da tarde, sentado em uma pedra, enquanto via as ondas do mar baterem perto do palco da Praia da Tartaruga, em Rio das Ostras. pensava em quantas vezes o baterista e o tecladista/guitarrista da banda da cantora Taryn Szpilman, que se apresentava no 6º Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, tinham colocado em seus toca-discos algum álbum do Led Zeppelin. Movido pela imagem, pelas caras e bocas que eles faziam e pelos solos que mostravam, ignorei a possibilidade de eles nunca terem escutado um disco inteiro de Robert Plant e Jimmy Page. O fato é que aquele show foi o pior do dia e de todos os shows que já assisti aqui, em três anos de festival. De Billie Holliday a uma composição recente que a cantora descreveu como samba-rock, mas que não tinha nada do balanço brasileiro mas apenas um pandeiro no início, o show teve Janis Joplin, Jimi Hendrix, Ray Charles, James Brown e, claro, Led Zeppelin. Segundo eles, "passeio pelo blues", para mim falta de critério.

19 maio 2008

você só se apaixona por uma garota quando a vê dormindo. obviamente você também pode não se apaixonar por uma garota se a vir dormindo. essa é uma teoria. se ela dormir como a personagem da norah jones em My Blueberry Nights dorme no balcão daquele café nova iorquino, bêbada e com os lábios sujos de torta, então você não vai resistir. acho que é por isso que eu tenho tanta vergonha de cochilar no ônibus, na volta para casa depois do trabalho. talvez alguma garota também pense assim e eu não sei se durmo de um jeito bonito. alguém dorme direitinho em um ônibus?

18 maio 2008

São 5 da tarde. Eu acordei às 8h, muito atrasado, por sinal, para o trabalho (é, de vez em quando as pessoas trabalham aos domingos). Levando-se em conta que, nesse dia, as pessoas normalmente saem da cama por volta das 10h, se não tiverem, no dia anterior, ido a uma boate, festa ou coisa parecida, e que as que foram a alguma boate, festa ou coisa parecida só vão acordar depois de meio-dia, então já se passaram sete horas úteis. Nem tão úteis, porque domingo é dia de não fazer nada, mas suficientes para comer, ver um pouco de televisão, checar os e-mails, perder um tempo no msn e mandar uns recados pelo orkut. Deu tempo de ouvir música, assistir o primeiro tempo de algum jogo do campeonato brasileiro e, os mais espertos, aposto que assistiram algum filme no cinema. Mães, é claro, foram além desse marasmo e cozinharam, foram ao supermercado (as que trabalham durante a semana) e talvez tenham levado o cachorro pra dar uma volta na rua. Passadas tantas horas, quem gosta de mim de verdade ligou para dar os parabéns (não foram muitos, claro); quem eu acho que precisava de um empurrãozinho eu liguei, avisei e aproveitei para ouvir os parabéns; os conhecidos, as pessoas distantes por algum motivo e as preguiçosas deixaram um scrap, mandaram uma mensagem pelo celular ou pelo msn (foram muitas); os amigos de verdade aparecerão logo mais e farão as coisas do modo tradicional, abraços e beijos, que é mais legal. Nessa conta, só uma coisa me intriga: até agora nenhuma ex-namorada ligou, nem mandou scrap, e-mail ou mensagem de celular, também não liguei avisando, porque ainda resta uma ponta de orgulho, e, pelo andar da carruagem, só passarão pela Oscar Rodrigues de Oliveira se esta for a última rua da cidade.

12 maio 2008

só pra registrar uma façanha. 20 meses de revista Piauí e é a primeira edição que eu leio de cabo a rabo, sem deixar passar nada. e foi até antes do fim do mês. esse número está sensacional, tem Ralph Steadman contando aventuras com Hunter S. Thompson; Ana Luisa Escorel em um texto belíssimo sobre Antonio Candido; e desenhos impagáveis de Sempé!

17 abril 2008

Raimundo de Oliveira é um personagem admirável. Organizador do Femusquim, que já passou da décima edição, do Encontro de Chorinhos e Chorões, na quarta, dono do desalojado Botequim do Femusquim, apaixonado pelo bairro dos Alagoanos e pedreiro.

Maior produtor cultural da Capital, pela marginalidade dos eventos que organiza, sempre no alto do morro onde vive, longe dos centros consagrados da cultura na cidade, Raimundo não se rendeu aos cargos públicos, aos eventos pagos em espaços públicos, às ongs e associações montados apenas para arrecadar patrocínios.

Continua vivendo no morro, procurando um novo lugar para o seu bar ("de onde se possa avistar a cidade"), organizando seus festivais de música que movimentam a cidade e trabalhando como pedreiro para se manter.

07 abril 2008

expurga o que?

Chega a ser estranho encontrar o MySpace (indicado por um amigo) de alguém que você vê passar às vezes pela rua, que você sabe que toca em uma banda cover de The Strokes, mas nunca imaginou que fizesse música pra valer, gravasse em casa, no computador, e ainda por cima fosse essa música muito boa. Eu me sinto assim ouvindo o Fê Paschoal e suas três composições disponíveis. Mímica é a melhor delas.

"Mas que saudade que me deu, pequena
de namorar
Ver o luar no brilho branco do seu riso
que é de me cegar"
De letra ingênua em sua declaração de amor e um violão dedilhado, simples assim. Fez recordar, pelo jeito de cantar, Hermes de Aquino, compositor-de-um-hit-só, a linda Nuvem Passageira.

Fê faz parte de um movimento chamado Expurgação, sem compromisso com a técnica e de inspiração hippie futurista. O manifesto do grupo está publicado em um blog, onde tentam se definir.
"Somos um grupo de amigos vivendo em algum canto do mapa. Assim como você, vivemos nossas loucuras e angústias. Vivemos num mundo de explosão tecnológica e vemos os valores de nossos pais caindo por terra abaixo. Num lugar onde nada faz sentido, onde nossas dúvidas só aumentam a cada passo que damos, negamos a impotência que nos é relegada e tentamos dar nosso último suspiro, a cada dia que se passa. Num momento em que tudo o que fazemos é ensaiar o caos e inverter valores, a não-dualidade toma forma (de alguma foma) através da informação que flui pelas nossas cabeças."
Fê Paschoal toca na Ufes nesta quinta, acompanhado de sua banda, Os Expurgadores, depois das 20h, no Auditório do IC2.

27 março 2008

algumas idéias bem rápidas

#1 Paranoid Park, do Gus Van Sant, é um filme genial. Superior a Elefante, talvez até a Últimos Dias, que eu ainda vou rever.

#2 O Moquecada segue os moldes do falecido blog Papel Pobre e do bombado Te Dou Um Dado? para zoar a imprensa capixaba, os apresentadores de TV, as colunas sociais e as modinhas da Ilha. É divertido às vezes, sem graça na maior parte do tempo, mas vale a pena ver (de novo?).

21 fevereiro 2008

féretro

"O mito do irmão caçula não incomodava o músico Araken Peixoto, pois cada vez que ia aos shows de Cauby, recebia ele mesmo afagos no ego, de fãs apaixonadas por seu pistom -as mesmas que lhe renderam homenagens no enterro."

Já parou pra pensar que a morte rende ótimos filmes, livros, músicas? Rende até lindos textos jornalísticos como esse (primeiro páragrafo) de Willian Vieira, da seção de obituários da Folha de S. Paulo de hoje (21/02).

Ou esse aqui: "'O negócio dela era ganhar dinheiro para se transformar', diz a família, pasma com o fim brusco da odisséia particular de Thesca -que deixou Teresina para se travestir em São Paulo, implantou silicone em busca do corpo perfeito e morreu sem realizar seu sonho italiano.", do mesmo autor, na mesma parte do jornal de ontem (20/02).

Isso é coisa de artista! Tanto que a Companhia das Letras publicou há pouco tempo "O Livro das Vidas", com textos da seção de obituários do The New York Times. Gay Talese já tinha escrito um artigo intitulado "Sr. Má Notícia", sobre o repórter responsável pelos textos. No Brasil, a prática é pouco comum, acho que só a Folha pratica.

adendo #1 A Revista Piauí fez um perfil do obituarista da Folha na edição de fevereiro, chamado "A Logística de Fazer um Morto", é só clicar e ler. Pros preguiçosos, ele tem só 23 anos e está há pouco mais de 3 meses no cargo.

adendo #2 Não resisti e copiei mais um trecho: "Um raio caíra sobre Polaco, que morreu naquele fatídico sábado, aos 41. Quem o conhecia diria que 'morreu fazendo o que gostava'."
#1 a descoberta boa da semana é Thao Nguyen & The Get Down Stay Down. O disco We Brave Bee Stings And All começa muito bem com a divertida "Bag of Hammers". Ouve aí!

#2 as coisas claramente não estão indo bem quando, em menos de duas semanas, você estraga sua cabeça em um ar-condicionado e leva três pontos, e em seguida quase quebram seu nariz com uma braçada involuntária no que deveria ser apenas mais uma linda jogada cuja única conclusão aceitável seria o gol.

01 fevereiro 2008

porque só aos poucos você descobre tudo o que perdeu. também encontra ao acaso objetos herdados involuntariamente. e, quando a partilha não é completa, ainda haverá muito do que se arrepender.

o que tomaram sem você perceber. o que, depois de muito insisitirem, levaram com seu consentimento. aquela bolsa bonita do festival de cinema. um creme de cabelo idiota. o que deu com alegria. o que ganhou sem pedir. o vidro com uma mecha de cabelo amarrado em laço de fita. as cartas, os bilhetes de bom dia. a marca do batom no espelho do banheiro. o gosto do bolo de cenoura com cobertura de chocolate.

31 janeiro 2008

É melhor não prestar atenção ao hype que andam arranjando pra cima da Mallu Magalhães, a cantora/compositora de 15 anos que tem quatro canções no myspace. Porque se escutar Tchubaruba, uma dessas músicas, você não vai mais parar de ouvir e cantarolar.

#1 Juno é o Pequena Miss Sunshine da temporada 2008.

17 janeiro 2008

maldita hora em que eu decidi colocar um dvd de House no aparelho. Agora eu quero assistir à série inteira, ser amargurado para o resto da vida e ter uma bengala.

14 janeiro 2008

#1 qual o procedimento correto (ou as reações possíveis) para quando uma amiga pergunta "Já pegou ela?", fazendo referência a alguma garota, você responde afirmativamente e ouve um "Eu também".

#2 depois de mais um show do Dead Fish, afirmar que o hardcore, na forma como ele é hoje, foi forjado no Espírito Santo nos últimos 17 anos é mais sensato do que procurar evidências de que a bossa nova nasceu aqui.

10 janeiro 2008

escrevo cartas imaginárias de amor e reconciliação e as enviarei pelas nuvens negras que se dirigem para o norte beirando o oceano. elas cairão como a chuva espessa com a qual pretendo lavar sua alma e renovar minhas esperanças de que você, de volta, virá até onde estou. E não serão poucas as palavras ásperas nem fracos os tapas nervosos com os quais mostrará o que sente.

06 janeiro 2008

Cinema é um negócio bacana. O problema é O QUE as pessoas fazem com ele.

Só pra deixar claro, a Internet também presta incalculáveis serviços. A culpa é das mulheres que não vão aos encontros marcados.