Se nos dois anos anteriores, o Rio das Ostras Jazz e Blues Festival preferiu os instrumentos de sopro (apresentando Ravi Coltrane, James Carter e Wallace Rooney, entre outros), a sexta edição do festival, que começou na quarta e foi até o último domingo, teve como atrações principais músicos que criam sua arte nas cordas.
Mas o festival foi além do violino de Regina Carter e das guitarras de Russel Malone, John Mayall & The Bluesbreakers, James “Blood” Ulmer, Vernon Reid e John Scofield. Foram 18 atrações e 25 shows em cinco dias, uma maratona de improvisações jazzísticas, bluesmen empolgados, artistas encantados com o público e platéia enlouquecida em apresentações gratuitas.
A maior supresa veio de New Orleans (EUA), terra do blues, com uma proposta de renovação do estilo. Como uma tropa de choque postada à frente do palco, a linha de quatro trombones do Bonerama, com o suporte de bateria, guitarra e uma tuba, deu um show de energia passeando por músicas tradicionais, inéditas e releituras de “The Wizard”, do Black Sabbathe, e “The Ocean”, do Led Zeppelin, dois dos riffs mais conhecidos do rock’n’roll.
“New Orleans é ótimas! E está ficando melhor!”, disse Craig Klein, um dos líderes do Bonerama, no palco da Praia da Tartaruga na sexta-feira à tarde, para uma platéia surpresa com as distorções de um trombone eletrificado. Em seu instrumento, um adesivo dizia “ReNew Orleans” (trocadilho com renove New Orleans).
O pai do blues britânico John Mayall, 73 anos, à frente da banda The Bluesbreakers, era sem dúvida a atração mais aguardada. Mas seu show esteve longe de ser o melhor. O músico se irritou com um teclado misteriosamente desprogramado e o que se viu foram momentos de tensão resolvidos sob o olhar angustiado dos fãs. Com Mayall longe da guitarra, quem se destacou foi Buddy Whittington.
John Scofield, por sua vez, abriu o show com “House of the Rising Sun”, um blues tradicional gravado por vários artistas (Bob Dylan, entre eles, em 1962), que está presente em seu “This Meets That” (2007), disco no qual baseou a maior parte do repertório dos dois shows.
Acompanhado por baixo elétrico (do aclamado Steve Swallow), bateria e um trio de metais, Scofield fez um show extremamente técnico e introspectivo que fez apenas uma concessão ao público: “(I Can't Get No) Satisfaction”, dos Rolling Stones, que fecha seu mais recente lançamento. No encerramento do festival, domingo à tarde, Scofield tocou para uma platéia distante, impedida de se aproximar do palco da Praia da Tartaruga pela maré alta.
“The master of disaster!”, anuncia Vernon Reid, guitarrista do Living Colour. E só então James “Blood” Ulmer sobe ao palco de Costazul, no sábado à noite, para, sentado em uma cadeira, executar clássicos do blues com o dedilhado mais cool do festival. Um dos poucos e grandes nomes da guitarra na vertente conhecida como free jazz, Ulmer tem se dedicado ao blues elétrico moderno nos últimos anos.
Em duas apresentações, Ulmer executou em sua guitarra canções clássicas de Willie Dixon, John Lee Hooker e Muddy Watters, do disco “Memphis Blood: The Sun Sessions” (2001). O álbum foi produzido por Reid, daí a explicação para sua participação especial. Sem a rigidez dos protocolos, o guitarrista fez o melhor show do festival na Lagoa de Iriry, domingo à tarde, com solos de guitarra desconcertantes e refrões cantados a plenos pulmões.
*sem a edição do Caderno2 de hoje.
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