28 julho 2006

Desde o advento da música pop, numa freqüência que cresce em progressão geométrica, os ingleses se divertem lançando discos destinados a movimentar o mais frio roqueiro do ocidente. Deve ser por isso que eu escuto Lilly Allen pulando pela casa, com um sorriso de quem se diverte ouvindo as histórias ocas de uma adolescente igual a tantas por aí. O irmão mais novo fumando no quarto e as baladas nos clubes vêm embrulhados em batidas empolgantes e samples bem montados. Citações de bossa nova, dance e reggae se encaixam em bases brincalhonas e dão forma à voz da menina.

Pulo e me sinto estranhamente próximo de britney spears, beyoncé e tantas outras. Ah, o mundo da música pop dá voltas!

24 julho 2006

tenho tentado não encontrar entrelinhas numa pequena tragédia acontecida semana passada no meu quarto. minha mãe não pode saber, mas a miniatura de jornalista que foi presente dela no dia da colação de grau teve seu impassível papel de enfeite de prateleira seriamente abalado. henry miller, truman capote, joseph mitchell, beatriz sarlo e italo calvino acharam por bem empurrar dali do alto o deslocado senhor de câmera fotográfica a tira-colo, que terminou tendo a cabeça decepada na queda.

ainda não fiz nenhum esforço para colocar a cabeça no lugar. a dele e a minha.

19 julho 2006

dedicatória

se naquela noite, você, ao invés de negar insistentemente, apenas me beijasse, estaríamos agora assistindo filme juntos. os pés debaixo da coberta. e eu teria te poupado todo o sofrimento da morte e a angústia da vida. seríamos ainda os mesmos, que bebiam cerveja toda noite depois do expediente e faziam o trajeto de volta para casa se espremendo nos muros. você ainda subiria no meio fio para me beijar e eu pronunciaria seu nome em tom de orgasmo.

se, nos dias que se seguiram, eu deixasse meu orgulho de lado, você moraria comigo, teria um filho meu e me pouparia a energia gasta em escrever algumas linhas lamentando a mediocridade do meu cotidiano sem você.

14 julho 2006

Patrícios

Leiam o que a al jazeera, o canal de tv, diz sobre os ataques de Israel ao Líbano.

Para entender o ponto de vista dos oprimidos, visitem o al jazira, em jucutuquara, o único bar, eu disse bar, árabe de vitória e conversem com o Said Ghraize.
aqui, de onde escrevo, não importa quantas vezes se chegue, as pessoas não lembrarão de você na próxima visita. e, porque não te conhecem, receberá o tratamento oferecido aos forasteiros. o olhar inquisidor, a desconfiança, o comentário malicioso.

daqui só é possível sair uma vez na vida, num dia ou noite em que se descobre o mundo e a inquietação se torna tão grande que é possível romper as amarras, dar adeus à mãe, deixar os amigos e aprender a contar até o infinito.

e por mais que se afaste, o fantasma deste lugar continua vagando e você vai pensar em voltar algumas vezes.

10 julho 2006

Havia em Jardim da Penha, na Rua Eugenílio Ramos, um restaurante numa casa de pedra chamado Azzurra. Mudaram o nome do lugar há uns poucos meses, talvez quatro. Ficou sendo Bola Brasil. É verdade que eu nunca vi movimento ali, sempre que passava na porta estava vazio. Agora me pego tentando explicar a mudança de nome. Talvez sobre o dono, um italiano, óbvio, tenha caído a saudosa lembrança de sua terra e o desejo silencioso, porém implacável, de pisar novamente o chão que ele só aprendeu a amar quando estava distante, denominador comum de todos os imigrantes. Mudando o dono, muda-se o nome. Também pode, o dono, seja ele brasileiro, italiano ou chinês, ter deixado de lado as belas massas em prol de uma cozinha genuinamente brasileira.

Admitiria estas hipóteses se não estivéssemos em meados de 2006. É certo que mudaram o nome para atrair, em tempos de copa do mundo, a fatia dos clientes patriotas, que alguma pesquisa de mercado esperta soube identificar. Além disso, a seleção italiana não ganhava uma copa há 24 anos! Uma péssima estratégia de marketing seria deixar com este nome um restaurante que, pretendia-se, de sucesso.

Mas, vieram os jogos e não os clientes. O título foi para a Azzurra. E bola e Brasil se mostraram uma péssima combinação.

06 julho 2006

Não pense que eu sou ruim. Quando me disseram que conhecemos as pessoas certas nas horas erradas você não foi o primeiro nome que me ocorreu. Sempre acreditei que você era a garota errada numa oportunidade horrorosa. Mas subtraindo meu orgulho, acho melhor confessar que eu nunca vou esquecer seu nariz. Se me interessei por você naquela noite do dezembro mais quente que eu já vivi, ele foi o grande culpado. Depois vieram seu sorriso e o sobrenome árabe, mas bastava o nariz grande!

Insisto. Aqueles não eram os melhores dias da minha vida, o extremo oposto, porém. Tive que escolher entre você e minhas amídalas, as quais, com a obstinação que me faltava para dizer que te amava, me sufocavam dia e noite. Sobrava um resto de voz insuficiente para sugerir a você que esperasse eu me curar.

Agora, lamento que este romance laringo-nasal tenha terminado tão sem mágoas ou justificativas. Sem gritos histéricos nem olhos e narizes escorrendo lembranças e tristeza.

04 julho 2006

1º Contravenção – Mostra de Vídeos na Contramão e de Invenção

(#1) release que eu e Kênia Alice fizemos em menos de 2h, pelo msn. O nome da mostra eu inventei!

Nesta quarta-feira, os estudantes de Comunicação Social da Ufes realizam a Contravenção – Mostra de Vídeos na Contramão e de Invenção, a primeira mostra de vídeos produzidos por alunos de jornalismo e publicidade da universidade federal. Os vídeos serão exibidos a partir das 20h, no pátio do Cemuni 5 no Centro de Artes.

Com um ideal festivo, sem premiação, mas com música, cerveja gelada e vinho de garrafão a noite inteira, a 1º Contravenção tem o objetivo de tirar dos arquivos empoeirados os vídeos fresquinhos produzidos nas disciplinas do curso de Comunicação e em oficinas de animação e vídeo oferecidas pelo Centro Acadêmico desde 2003 além das fitas independentes feitas pelos estudantes.

Sem um canal universitário para a veiculação deste material, os estudantes pretendem formar um circuito alternativo de exibição, autônomo e temporário, uma rede sem hierarquia e sem censura, mas com um alvo bem definido: divulgar o que se inventa na universidade (ou apesar dela). Até agora são 15 vídeos inscritos, mas todos estão convidado, podem levar seu dvd ou vhs que serão exibidos na hora.

A 1º Contravenção é organizada pelo Centro Acadêmico de Comunicação Social da Ufes e tem o apoio do Departamento de Comunicação Social.

03 julho 2006

o hexa

depois da copa do mundo pífia e do jogo desastroso de sábado, ontem veio ferreira gullar, em sua crônica na ilustrada da folha, dizer que futebol não é arte, mas jogo. nosso poeta endossa o pragmatismo de parreira, que esteve certo ao querer ganhar apesar do modo de jogar. e acabo de ouvir no jornal hoje o quebrador de recordes cafu declarar que nem sempre o melhor vence.

chega a ser divertido o modo como a globo, em seu noticiário esportivo, desde domingo, crucifica os jogadores mais antigos, os homens de confiança do técnico. cafu e roberto carlos, os acusados pelo gol da frança, sairão no lucro se sobreviverem após o massacre. aliás, sobrevida os dois tiveram na seleção, roberto carlos falha e não cruza uma bola na área adversária desde 1998.

até kaká e adriano estão no rol dos piores da copa. liderada, claro por parreira e sua reação tardia ao futebol medíocre da seleção.

(#1) sábado, enquanto os jogadores brasileiros murmuravam o hino nacional, a escelsa fazia um grande esforço para poupar os torcedores da região norte de Vitória de mais uma traumática partida contra a frança. em jardim da penha faltou luz durante quase todo o primeiro tempo. infelizmente, conseguimos a casa de um colega com luz, dois prédios à frente, na mesma rua, e pudemos fazer parte da corrente pra frente.

(#2) em 1998, assisti a quase todos os jogos com a minha mãe. quase. justamente na final eu fui para um sítio com amigos. lembro de, ao voltar pra casa à noite, passar por ruas desertas. um silêncio angustiante na cidade inteira. minha mãe me culpa até hoje pela derrota do brasil.