30 outubro 2007

Domingo, 28 de outubro de 2007, é o Dia em que Cat Power bebeu caipirinha na Rua da Lama. Mas esse episódio já caiu na boca do povo.

A novidade é que, como se não bastasse a cantora ter sentado no Abertura na noite anterior, na segunda-feira pela manhã o tradutor dela ligou para duas fãs convidando para um passeio. Na van do festival, às 10h30, elas foram à Praia da Costa, depois almoçaram moqueca capixaba e ainda tiveram tempo para fazer compras em um brechó.

29 outubro 2007

Qual é o fascínio exercido por tradutores na literatura e no cinema? Posso citar agora, sem pensar muito, três exemplos recentes: livros cujos personagens centrais são tradutores. "Travessuras da Menina Má", do Mario Vargas Llosa; "Até o Dia em que o Cão Morreu", de Daniel Galera, e "O Passado", de Alan Pauls. Os dois últimos eu não li, apenas assisti às adaptações para o cinema feitas por Beto Brant e Renato Ciasca, "Cão Sem Dono", e Hector Babenco, "O Passado".

Os três são personagens errantes, que se tornam solitários devido a relacionamentos fracassados. Suas carreiras sofrem altos e baixos, parece que sua arte é volátil como a memória humana. O jogo de cintura para encarar palavras e expressões idiomáticas, em russo, francês, japonês ou inglês, contrasta com a falta de tato nos amores.

Daí que realmente parece mais fácil entender russo do que saber ler uma mulher.

Killers no Tim Festival

Pra lembrar 2005, quando eu escrevi um texto babando pelo show do Strokes em São Paulo, coloco aqui o que deveria sair no Caderno Dois de hoje. Não tinha espaço suficiente.

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O teclado armado na frente do palco, enfeitado com luzes e flores, funciona como um púlpito. Brandon Flowers é o pastor que conduz os fiéis a emoções extremas, do transe introspectivo à catarse enérgica. Ele é a autoridade máxima, a quem cabe dar boas-vindas e manter a harmonia em Sam´s Town, o lugar criado para que os Killers convertam o público ao seu rock’n’roll de sonoridade oitentista.

O culto começa efervescente. A banda oferece os melhores sermões de seus dois discos (“Hot Fuss” e “Sam´s Town”) em uma seqüência que parece interminável. São sete motivos para o público que lota o palco principal na noite de sábado do Tim Festival no Rio não ficar parado. Da música tema a “Jenny Was a Friend of Mine”, passando pela energia de “Bones” e “Somebody Told Me”.

Flowers se emociona quando canta “Read My Mind”, com seu romantismo deslavado que remete a U2. Ainda há tempo para o clímax, com “Mr. Brightside”. E, no final, os fiéis se lembrarão do que Flowers cantou, acompanhado apenas pelo órgão, em “Enterlude”, no início do show: “We hope you enjoy your stay / And it´s good to have you with us / Even if it´s just for the day”.

A energia que os Killers gastaram no sábado só se compara ao espetáculo de Björk na noite de sexta, no mesmo palco. Juliette Lewis e sua banda, os Licks, que abriram para The Killers, até tentaram: a atriz de “Assassinos por Natureza” mostrou disposição em seu rock’n’roll pesado. No final da apresentação, depois da cena manjada em que o astro do rock se enrola na bandeira do Brasil, ela se jogou nos braços da platéia.

Björk não precisou de tanto. A cenografia com flâmulas e estandartes ilustrava o cenário com peixes, anfíbios, répteis e aves. A evolução da espécie humana estava ali, em carne e osso, envolvendo a platéia com sua música eletrônica, sem exageros vocais. Destaque para “Hunter”, “Pagan Poetry” e “Declare Independence”, de seu último disco.

Já os Arctic Monkeys, última atração do palco principal na sexta e grande trunfo do novo rock, mostraram frieza e não surpreenderam. Rock simples e direto, com as guitarras dançantes de “Brianstorm”, “D is for Dangerous”, “Fluorescent Adolescent” e “I Bet You Look Good on the Dancefloor”.