31 dezembro 2007

em construção

Senso de oportunidade foi a definição pouco culposa que encontrou para sua capacidade de cometer erros de toda sorte. O caminho até o novo conceito foi longo e a resolução, claro, motivada pelo arrependimento. Já há algum tempo não pensava em termos do que seria feito e do rumo que as coisas tomariam depois de alguma decisão. Preocupava mais vislumbrar como a vida não seria ou como seria se deixasse de lado a curiosidade. Havia excluído do rol de reações possíveis a possibilidade de recusar novas experiências. Mil vezes correr riscos e ser atropelado pelos acontecimentos a privar-se no retiro da rotina.

Quanto às oportunidades, não gostava de perdê-las, embora não se esforçasse muito para criá-las. Surgiam na forma que ele sonhasse. Não da noite para o dia, mas no tempo certo dos desejos que aparecem de estalo e se tornam mais agudos à medida que crescem esquecidos, despertados vez ou outra por uma lembrança singela ou voluptuosa.

Após cada decisão, o ritual incluía, ao fim, pedidos de perdão. A si mesmo e aos outros, como forma de se desculpar pelo que acabara de fazer. Era assim que navegava, aproveitando gratuitamente a velocidade dos ventos, sem oferecer nada em troca, e elaborando justificativas aos deuses por esta contabilidade vantajosa. Tanto que se acostumou e com o tempo passou a se culpar cada vez menos, tirando o máximo proveito do que os meios lhe ofereciam.
"Estão separados?" "Não exatamente. Ninguém se separa, Rímini. As pessoas se abandonam. Essa é a verdade, a verdade verdadeira. O amor pode até ser recíproco, mas o fim do amor não, nunca. Os siameses se separam. Mas não se separam, tampouco: porque sozinhos não conseguem. Um terceiro precisa separá-los: um cirurgião, que corta pelo meio o órgão ou o membro ou a membrana que os une com um bisturi e derrama sangue e na maioria das vezes, diga-se de passagem, mata, mata um deles, pelo menos, e condena o outro, o sobrevivente, a uma espécie de luto eterno, porque a parte do corpo pela qual estava unido ao outro fica sensibilizada e dói, dói sempre, e se encarrega de lembrá-lo, sempre, de que não está nem nunca vai estar completo, que isso que lhe tiraram nunca mais poderá ter de novo."


Sofía, em O Passado, o livro/filme que provoca em mim as piores recaídas.

25 dezembro 2007

você percebe que cresceu, o natal mudou e não há nada mais a ser feito quando ganha de presente uma furadeira de impacto 450W black&decker e dois jogos de brocas, um para madeira e outro para concreto.

mas ainda é melhor que roupa!

23 dezembro 2007

espírito natalino

#1 continua o projeto autro-destruição do self. já teve noite de chuva com cachaça e cerveja na barra do jucu, viagem de onibus com velha-doida-cheia-de-sacola do lado e agora batida policial por reclamação de barulho.

#2 manhuaçu é assim, você pode dormir de edredon na primeira noite de verão.

#3 poucas pessoas no mundo têm o poder de me fazer comprar um guarda-chuva de 50 reais.

10 dezembro 2007

The Police

Do Caderno Dois de hoje.

The Police para quem precisa

Está tudo ali. A fusão de ska e rock, Sting com sua dancinha característica e seus agudos inconfundíveis, Andy Summers discreta e elegantemente explorando sua guitarra, e Stewart Copeland que 24 anos após a última turnê se dedica à bateria com a mesma energia e aquelas luvinhas de sempre. Todos os elementos que fizeram do The Police uma das bandas mais importantes da história da música.

E os 74 mil que estão no Maracanã na noite quente de sábado mal podem esperar. A abertura a cargo dos Paralamas do Sucesso, filhote brasileiro do Police, serve para lembrar que os anos 80 estão logo ali, no camarim.

No gramado, antes do show, um grupo de homens e mulheres com idade para ter visto a banda antes do fim prematuro, em 1984, gasta o tempo jogando Detetive, aquele de matar com uma piscadela sem ser descoberto pelos policiais. Dois amigos que se formaram juntos na escola do exército, um deles com o filho que nasceu bem depois do Police tocar pela primeira e única vez no Brasil, em 1982, se encontram e marcam de tomar um chopp pra lembrar os velhos tempos.

A ansiedade se torna euforia quando, em alto e bom som, Bob Marley entoa “Get Up, Stand Up”. É a deixa para o trio entrar no palco e soltar logo de cara “Message in a Bottle”, empolgante como sempre, no volume ideal para todo o estádio ouvir. Em seguida, com “Synchronicity II” cinco telões de alta definição sintonizam os três senhores de cabeleira amarela, outra marca registrada da banda.

Só antes de “Walking on the Moon”, Sting conversa com o público. “Que Saudade. Querem cantar comigo?”, ele diz, em português. E depois pede que o público mostre as mãos em “Voices Inside My Head”, canção pouco conhecida que ganhou, no show, um solo gigantesco de Andy Summers, contrariando a estética do “menos é mais” cuja bandeira a banda erguia mais de 24 anos antes.

“Don´t Stand so Close to Me” voltou a trazer o trio para junto do público, antes de uma seqüência de músicas com andamento lento e pouco apreço popular que só foi quebrada três músicas depois com “Every Little Thing She Does is Magic” e com “De do do do De da da da”. Mais adiante, “Invisible Sun” era ilustrada, nos telões, por fotografias de crianças vítimas da pobreza e das guerras.

Em “Walking on your footsteps”, Sting usa uma flauta indígena e Copeland sai da bateria para tocar percussão e xilofone. Mas o exotismo pára por aí: em uma seqüência final com seis hits executados com firmeza a multidão tem a certeza de que presenciou um capítulo marcante da história da música. “Roxanne” é aclamada enquanto o palco é tingido de vermelho. “Every Breath You Take” é cantada por todos. “Next You”, e sua força incrível, é o final perfeito para um concerto de rock’n’roll.

08 dezembro 2007

tive medo que o Herbert Vianna quase morresse no palco, acho que Edith Piaf influenciou drasticamente minha imaginação. ele vai ficando vermelho e parece que vai explodir a qualquer momento. mas suportou os 50 minutos de show, errando na guitarra algumas vezes, claro. os Paralamas privilegiaram as músicas que fazem referência à sonoridade do The Police, os ska's que acumularam ao longo da carreira. teve até Lourinha Bombril. Disseram que o Manu Chao faria uma participação, mas ele não veio.

2014 que nada.

todo menino quer ser jogador de futebol. eu também queria, mas não passei nem perto de ser bom de bola. isso não importa mais depois que você pisa no gramado do Marcanã, nem que seja por cima daqueles pisos de plástico que protegem o campo dos pés pouco hábeis e sem travas dos fãs de rock'n'roll.

menos ainda quando seu acesso para o campo se dá por um dos túneis, saindo de dentro da terra para ver à sua volta as arquibancadas lotadas em um fim de tarde carioca.

agora escrevo de um vestiário, pisando a grama sintética onde alguns caras bem mais dentuços e ricos do que eu já ensaiaram e a única certeza que eu tenho é a de que nenhum jogador de futebol tem celular Claro, porque aqui eles não funcionam!

depois eu conto o resto.

20 novembro 2007

no pós orgia vitória cine vídeo você ouve várias revelações:

#1 descobre que uma nova amiga tem um roteiro de um pornô-lírico-colaborativo de 15 minutos.

#2 descobre que um velho amigo tem um roteiro para um longa sobre a juventude do início do século XXI (baseado na sua turma de amigos e em algumas brincadeiras bem típicas).

#3 se descobre rabiscando idéias e imaginando cenas de, pelo menos, três documentários diferentes. E, é claro, sem saber como vai realizá-los.

30 outubro 2007

Domingo, 28 de outubro de 2007, é o Dia em que Cat Power bebeu caipirinha na Rua da Lama. Mas esse episódio já caiu na boca do povo.

A novidade é que, como se não bastasse a cantora ter sentado no Abertura na noite anterior, na segunda-feira pela manhã o tradutor dela ligou para duas fãs convidando para um passeio. Na van do festival, às 10h30, elas foram à Praia da Costa, depois almoçaram moqueca capixaba e ainda tiveram tempo para fazer compras em um brechó.

29 outubro 2007

Qual é o fascínio exercido por tradutores na literatura e no cinema? Posso citar agora, sem pensar muito, três exemplos recentes: livros cujos personagens centrais são tradutores. "Travessuras da Menina Má", do Mario Vargas Llosa; "Até o Dia em que o Cão Morreu", de Daniel Galera, e "O Passado", de Alan Pauls. Os dois últimos eu não li, apenas assisti às adaptações para o cinema feitas por Beto Brant e Renato Ciasca, "Cão Sem Dono", e Hector Babenco, "O Passado".

Os três são personagens errantes, que se tornam solitários devido a relacionamentos fracassados. Suas carreiras sofrem altos e baixos, parece que sua arte é volátil como a memória humana. O jogo de cintura para encarar palavras e expressões idiomáticas, em russo, francês, japonês ou inglês, contrasta com a falta de tato nos amores.

Daí que realmente parece mais fácil entender russo do que saber ler uma mulher.

Killers no Tim Festival

Pra lembrar 2005, quando eu escrevi um texto babando pelo show do Strokes em São Paulo, coloco aqui o que deveria sair no Caderno Dois de hoje. Não tinha espaço suficiente.

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O teclado armado na frente do palco, enfeitado com luzes e flores, funciona como um púlpito. Brandon Flowers é o pastor que conduz os fiéis a emoções extremas, do transe introspectivo à catarse enérgica. Ele é a autoridade máxima, a quem cabe dar boas-vindas e manter a harmonia em Sam´s Town, o lugar criado para que os Killers convertam o público ao seu rock’n’roll de sonoridade oitentista.

O culto começa efervescente. A banda oferece os melhores sermões de seus dois discos (“Hot Fuss” e “Sam´s Town”) em uma seqüência que parece interminável. São sete motivos para o público que lota o palco principal na noite de sábado do Tim Festival no Rio não ficar parado. Da música tema a “Jenny Was a Friend of Mine”, passando pela energia de “Bones” e “Somebody Told Me”.

Flowers se emociona quando canta “Read My Mind”, com seu romantismo deslavado que remete a U2. Ainda há tempo para o clímax, com “Mr. Brightside”. E, no final, os fiéis se lembrarão do que Flowers cantou, acompanhado apenas pelo órgão, em “Enterlude”, no início do show: “We hope you enjoy your stay / And it´s good to have you with us / Even if it´s just for the day”.

A energia que os Killers gastaram no sábado só se compara ao espetáculo de Björk na noite de sexta, no mesmo palco. Juliette Lewis e sua banda, os Licks, que abriram para The Killers, até tentaram: a atriz de “Assassinos por Natureza” mostrou disposição em seu rock’n’roll pesado. No final da apresentação, depois da cena manjada em que o astro do rock se enrola na bandeira do Brasil, ela se jogou nos braços da platéia.

Björk não precisou de tanto. A cenografia com flâmulas e estandartes ilustrava o cenário com peixes, anfíbios, répteis e aves. A evolução da espécie humana estava ali, em carne e osso, envolvendo a platéia com sua música eletrônica, sem exageros vocais. Destaque para “Hunter”, “Pagan Poetry” e “Declare Independence”, de seu último disco.

Já os Arctic Monkeys, última atração do palco principal na sexta e grande trunfo do novo rock, mostraram frieza e não surpreenderam. Rock simples e direto, com as guitarras dançantes de “Brianstorm”, “D is for Dangerous”, “Fluorescent Adolescent” e “I Bet You Look Good on the Dancefloor”.

25 setembro 2007

música como companheira

eu nunca tinha escutado um disco de rap e não sei porque comprei, em um camelô, por cinco reais, "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MC´s. Era 1999, dois anos depois do lançamento, e o ambiente não favorecia um encontro semelhante. Com uns amigos tinha ido para Caputira, uma cidade esquisita perto de casa, para ficar hospedado numa fazenda com mais de cem mil pés de cafés e curtir a festa da cidade. Uma das atrações era o Latino e a única coisa que a gente fazia era beber run, ficar na piscina e ouvir música.

ouvi o disco no carro de alguém e não consegui parar de escutar durante alguns meses. Ainda não havia Napster e na minha casa não tinha MTV. Meu maior desafio era decorar a letra de Diário de um Detento, sem saber que existia um clipe que ganhava prêmios. As lendas que rondavam a figura do Mano Brown eu só fui conhecer alguns anos depois, mas só me prendi mesmo ao lance de se preservar em relação à cobrança da mídia.

ao contrário de todos os textos que lia sobre a banda e o letrista, elevando Racionais à categoria de referência para os pobres e Mano Brown à de líder revolucionário, nunca depositei na música feita por eles esperanças de resolver os problemas. É arte, pura e simplesmente. Há o discurso, mas com o passar dos anos e dos discos, e o próprio líder admite, o radicalismo arrefeceu, dando lugar a uma postura de aceitação a todo tipo de posicionamento ("Discurso é corda para se enforcar").

o que não significa esvaziamento de conteúdo. Acho a atitude de valorização do "eu" - de que cada "mano" é um indivíduo que deve buscar em si mesmo, e não em exemplos maiores, seu diferencial e seus talentos - madura e honesta. Mano Brown se esquiva com razão e bom senso da figura de herói e "bom exemplo" ("Eu sou eu").

cinco anos depois do pirata de camelô no interior de Minas, "Nada Como Um Dia Após o Outro Dia" eu comprei original, numa loja em Guarapari. R$ 23,90. duplo. preço honesto.

#1 tudo isso pra falar da entrevista do cara no Roda Viva, agora há pouco. Inseguro no início, à vontade a ponto de sorrir do meio do programa em diante, Mano Brown revelou, durante pouco mais de uma hora e meia, suas idéias e suas contradições ("As contradições só acabam quando morre").

chamou os traficantes de comerciantes. Igualou a cachaça 51 à maconha e os traficantes aos donos da Ambev. Deixou claro seu descrédito quanto à classe média, que ele chamou de finada. E, acima de tudo, reafirmou sua arte e sua humildade ("Eu sou um cidadão. Não sou líder de nada").

20 setembro 2007

#1 Não sei vocês, mas quando eu uso aqueles guarda-volumes de rodoviária sempre tenho a sensação de que meu parceiro no assalto descumpriu o trato, deu um jeito de arrombar o cofre e levou todo o dinheiro. Mas dessa vez (pelo menos) minha mochila continuava no mesmo lugar.

#2 Ainda no guarda-volumes, compartilhei com o vigia a minha obsessão por um Rainha Iate.

_ Onde o senhor comprou esse tênis?
_ Rapaz, não acha mais. Mas tenho um amigo, numa loja, eu ligo e ele guarda pra mim quando aparece. Trinta e nove e noventa. Eu gosto de usar para trabalhar e dirigir. Acelero até com esse aqui.

E mostra o tênis preto, já meio gasto.

_ Quando você voltar passa aqui que a gente vai lá na loja e compra.

Vou passar, seu Antônio, vou passar.

#3 Na sala de embarque de Confins tem uma Istoé largada numa mesinha entre as cadeiras. A manchete na capa? "Oh, Meu Deus! Vira, vira, vira!".

Todo mundo que passa vê e franze a testa. Olha pro lado pra se certificar de que não é um brincadeira, mas não encosta a mão.

14 setembro 2007

metro goldwyn mayer

Não sei se nossa cidade (vitória, para que fique bem claro) será um dia servida com o meio de transporte mais eficiente e charmoso que os homens inventaram. (eles ainda não fizeram o teletransporte funcionar). mas num devaneio coletivo, escolhemos com bastante antecedência os nomes das futuras estações de metrô da cidade.

Imagina como seria legal aquela voz metálica dizendo no subsolo coisas como: estaçããão lama, e você sairia do subsolo e teria à sua frente nada mais que todos os seus amigos no Cochicho depois de um dia de trabalho desgastante.

E aí, se quisesse ir ao Centro, poderia optar pelas paradas praça oito, onde sairia de um dos lados do relógio; moscoso, e aí teria à sua frente os sobrados decaídos, da antiga zona de prostituição; ou vila rubim, que nos dias posteriores à semana santa emanaria um cheiro inigualável de palmito em decomposição.

Caso se estendesse para os municípios vizinhos, os nomes poderiam ser ainda mais lúdicos. levando em conta uma inusitada passagem submarina, seríamos brindados com uma estação azteca (em Vila Velha), ou uma roda d'água, em Cariacica.

22 agosto 2007

quando, onírica e ingenuamente, pensei em algumas palavras que usaria para me definir, tratei logo de descrever a imagem que eu tinha de felicidade. isso foi há uns 4 anos, quando eu fiz meu perfil no orkut.

falei de uma casa no alto de um morro, onde embaixo passava um rio caudoloso. fazia frio. lá eu andei a cavalo, coisa rara. esse lugar existe e fica no interior de Minas, num sítio que visitei mais ou menos em 1999.

se chama Sem Peixe e lembro que o nome da cidade me marcou tanto quanto a beleza da roça, o contraste entre o verde do pasto e o marrom das águas de um afluente do Rio Doce que naquela parte não oferecia muita pesca. só fui entender o que aquele pedaço de chão significou pra mim uns anos mais tarde e agora me deparo com a notícia: "Sem Peixe tem o 1º homicídio em 10 anos".

o sítio deve continuar o mesmo, no mesmo lugar. o rio talvez esteja um pouco menos caudoloso, assoreado e seco. talvez não faça mais tanto frio e a cidade vai estar mudada quando eu voltar.

10 agosto 2007

acústicuzinho

se existe uma coisa realmente ruim neste mundo barulhento de meu deus isto se chama "Acústio MTV Sandy e Júnior". É pior que o valão da Leitão da Silva.

José Ramos Tinhorão disse na Folha: "Pessoas inteligentes não falam sobre Sandy e Júnior". Eu diria que pessoas minimamente criteriosas falam que o disco é realmente ruim e que o Marcelo Camelo deu o primeiro passo em falso depois do fim do Los Hermanos.

08 agosto 2007

palco

Alguém aí já viu "Um Forte Cheiro a Maçã"? É a peça mais interessante, levando em conta o meu escasso repertório de peças capixabas assistidas de 2002 pra cá.

São treze atores em palco, encenando dramas contemporâneos travestidos de metáfora bíblica, ou o contráio: a última ceia numa cidade portuguesa do século XXI. A opção pelo vocabulário e pelo sotaque portugueses é admirável, não compromete a compreensão dos diálogos e faz coro com autores como José Saramago, que não permite que seus livros sejam "traduzidos" ao "brasileiro".

Outro ponto legal é a revitalização do Teatro Edith Bulhões, espaço bacana também para festas, exibições de filmes e shows.

#1 Em comparação, "Uma Temporada no Inferno", de Wilson Coelho, que esteve em cartaz recentemente no Teatro Galpão, é uma encenação lamentável, exceto pelo ator principal, Maurício Fuziyama, que manda muito bem. Bizarramente, diretor e atores, depois de discurso, ainda convocam os espectadores a discutir a peça no final da apresentação. Constrangedor.

04 agosto 2007

jornalismo capixaba



prólogo: na quinta, um andarilho arremessa um moleque de cinco anos da Cinco Pontes até as águas da Baía de Vitória. Um engraxate que passava na hora pula e salva o garoto.

desenvolvimento: apresentados enredo e personagens, dá-se o drama. ontem a tribuna escondeu o "herói nacional" e a família em um hotel da praia de camburi até ele embarcar num vôo para são paulo, onde gravaria uma participação no domingo legal, do gugu.

epílogo: foto na capa da gazeta da família do menino arremessado. foto na capa da tribuna do engraxate abraçando criancinhas no aeroporto de vitória.

17 julho 2007

abordagens pouco ortodoxas. eficácia não-comprovada.

#1
_ Ei, tudo bem? Me passa seu msn pra gente conversar?
_ E por que a gente não conversa aqui?
_ (...)

#2
_ Sabia que a gente compartilha várias bandas e que nossa compatibilidade musical é Super?
_ ??!!??

#3
_ Oi. Não vai mais atualizar seu fotolog?
_ Pretendo.
_ Legal. Vou comentar...
_ (...)

14 julho 2007

tateou o escuro buscando o anel frio. encontrou a superfície gelada e depois a mão quente, os dedos finos e a pele suave. pousou ali por uns instantes, o braço esticado até o banco do outro lado do corredor. a mão do anel correspondia semi-quieta, latejando.

Imaginou uma mão morena, as unhas sem tinta, o pulso magro. e foi subindo até crer que os cabelos eram lisos e não desciam mais que a altura dos ombros, que o nariz era fino e os lábios, quase imperceptíveis entre duas bochechas macias.

o ônibus seguiu chacoalhando por mais hora e meia. parou quando ele devia descer. foi embora sem precisar olhar para o rosto que identificava o corpo que tinha a mão que o acolheu.

05 julho 2007

ah. o consumismo! essa válvula de escape dos problemas da juventude (juventude?)! se posso ir ao shopping e comprar um tênis novo, eu não preciso mais ter medo!

"My Adidas cuts the sand of a foreign land
with mic in hand I cold took command
my Adidas and me both askin P
we make a good team my Adidas and me
we get around together, rhyme forever
and we won't be mad when worn in bad weather
My Adidas..
My Adidas..
My Adidas"

homenagem a Run DMC e à sagacidade dos modelos adidas originals!

25 maio 2007

você percebe que está criando juízo quando...

...deixa de comprar um disco de samba para investir o mesmo valor em uma tábua de passar roupas.

ou talvez seja só um ato falho.

06 maio 2007

pessoas riem sem parar assistindo Pintar ou Fazer Amor.
definitivamente perdemos a sensibilidade.
ou vão me chamar de romântico?

01 maio 2007

de Calvin das 8h30 para o Calvin das 6h30: "se você não tivesse atrapalhado o meu passado, seu futuro não seria assim".
queimei sua doce lembrança no calor de uma noite.
durou pouco tempo minha memória dos seus gestos.

08 março 2007

volto, ainda temeroso, mas vai ser necessário, após alguns tropeços.

hoje fui homenageado, ainda que de forma rápida e com uma característica inesperada. uma amiga cronista me fez personagem e me definiu como aquele que "entende de canaletas e de como misteriosamente os fios entram lá, perfeitamente conduzidos por seus canutilhos". Tá. Isso ajudou a salvar alguma coisa do dia que descia pelo ralo.

talvez seja uma forma de se destacar na contemporaneidade: pregando canaletas, instalando apetrechos com uma furadeira emprestada, desentupindo pias ou matando baratas. talvez eu chegue lá um dia!