20 agosto 2005

saiba como vive a outra metade

Imagine cidadãos desafortunados, simultaneamente dominados e capazes de amedrontar os dominadores. Homens e mulheres cuja atenção pode ser desviada para imagens atraentes, shows de toda espécie ou mesmo fogos de artifício. Pense num líder isolado numa torre, protegido junto aos mais abastados, todos vivendo como se a vida estivesse circunscrita ao blindex de 10mm de espessura que os separa das ruas. E nas ruas podem estar latino-americanos, árabes, africanos ou zumbis.

Acompanhe a evolução. Primeiro agem instintivamente, aos poucos tomam consciência dos seus atos, aprendem a manejar instrumentos, sentem compaixão por seus iguais, desejam vingança, medem seus atos e tornam-se arrojados, indisciplinados, tentam alcançar a torre e derrubá-la com os dominadores. Isto ainda não aconteceu com os latino-americanos, ou com os árabes, nem africanos, mas com os zumbis de George A. Romero, em Terra dos Mortos.

Do primeiro filme do gênero - A Noite dos Mortos-Vivos, dirigido por Romero e lançado em 1968 - até hoje, foram 37 anos até que os comedores de carne humana tomassem conhecimento de sua condição desfavorável e decidissem transformar sua realidade.

As metáforas desenvolvidas em Terra dos Mortos por Romero, criador do evangelho e das regras dos filmes de zumbis, são sublimes. Existe uma torre símbolo da riqueza e do poder; um líder que do topo vigia as fronteiras; uma cidade habitada por seres humanos excluídos; e os zumbis, mantidos afastados sem direitos, sem um lugar. É um conto macabro pós 11 de setembro. Ainda mais inquisidor porque o diretor ama os seres que criou e permite que os excluídos vençam pelo menos no filme.

Os fogos de artifício atraem o olhar dos zumbis que se tornam vítimas fáceis para os guardiões da cidade. Funcionam como instrumentos alienantes, como mentiras plantadas e difundidas pela mídia, como ajudas humanitárias aos países pobres. O medo dos seres humanos admite a intervenção da classe dominante para que a ordem e a vida sejam preservadas, não importa em quais condições. E há o embate, a invasão pelos antes sub-desenvolvidos, agora em desenvolvimento, do lugar reservado aos desenvolvidos. A torre cai, mas os mortos-vivos ainda não encontraram seu lugar.

4 comentários:

lu. disse...

a noite de lua cheia do sabado foi muito boa.
e quem era o cara que bebeu e nao pagou?
tudo aconteceu como devia, eu acredito de certa forma em que não há acaso, e destino (mas isso são só idéias vagas).
e se deve ser assim... aponta pra fé e rema.
beijos pra vc. mocinho.

lu. disse...

ahn sim.
meu nome escreve com S!! grr

Anônimo disse...

"O medo dos seres humanos admite a intervenção da classe dominante para que a ordem e a vida sejam preservadas, não importa em quais condições."

Tá. Já leu Ensaio sobre a Lucidez? Lembrei dele com esse seu trecho.
:)

Mas ainda acho que não verei zumbis no cinema!
chero no cangas.

lu. disse...

ahn. dançamos até o chão e vc perdeu tudo. dancei com samantha, rodamelo subiu no palco e falou no microfone do dj malboro, leo viso dançou todos os passinhos possiveis.
e foi muito foda!
vc deu MUITO mole de não ter ido.
:*