04 agosto 2005

benzição

Sinto o corte frio do machado zunir em meu ouvido, passar rente ao meu ombro. esquerda. direita. esquerda. direita. enquanto forço meus olhos a permanecerem fechados ouço o movimento rápido dos lábios da minha algoz. as palavras exaltam um filho que morreu pra nos salvar e o poder de cura relegado ao instrumento que fecha meu corpo na imagem de uma cruz.

agora ela abre meus olhos. uma senhora de feições sensíveis, uma avó cujo maior poder é reunir todos os domingos as desavenças da família em torno de um frango e um punhado de macarrão. pede para que eu reze com força de vontade e assim o cobrero passa. não gasta mais que cinco dias. digo amém e ela guarda o machado, instrumento da crendice que corta o mal das doenças comuns que médicos não entendem. e despidos de seu orgulho receitam:

_lá no bairro são jorge, perto da igreja, tem uma dona maria benzedeira. cinco dias de reza e isto some.

4 comentários:

lu. disse...

tentei nao ler, pq hoje eu estou extremamente sensivel. mas agora já foi, desculpa todas as reaçoes exageradas.

demorou, mas gostei. tá bonito, seu moço.
bem jeito "Vitor Graize" de ser. do jeito que já fechei tantas vezes os olhos e ouvi.

:*

Anônimo disse...

haha.
eu juro que paro de comentar em todos os seus posts. mas não tenho culpa de me lembrar da minha mãe nesse.

já contei a história. e já tive espinhela caída. e já fui pra reza milhões de vezes. inclusive era sempre mal sinal quando a folhinha saía murcha. (isso sempre significava ter que voltar lá no outro dia, para mais uma reza).

e tem um horário pra reza. o fim da tarde é o mais indicado. tá bom, chega por hoje. bjos

Anônimo disse...

Hum, gostei do seu "blog secreto". Espero que continue...
Bjo, moço.

Anônimo disse...

ele tem um blogue, ele tem um blogue, ele tem um blogue! não li ainda. mas ele tem um blogue! agora todo mundo vai saber....