eu nunca tinha escutado um disco de rap e não sei porque comprei, em um camelô, por cinco reais, "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MC´s. Era 1999, dois anos depois do lançamento, e o ambiente não favorecia um encontro semelhante. Com uns amigos tinha ido para Caputira, uma cidade esquisita perto de casa, para ficar hospedado numa fazenda com mais de cem mil pés de cafés e curtir a festa da cidade. Uma das atrações era o Latino e a única coisa que a gente fazia era beber run, ficar na piscina e ouvir música.
ouvi o disco no carro de alguém e não consegui parar de escutar durante alguns meses. Ainda não havia Napster e na minha casa não tinha MTV. Meu maior desafio era decorar a letra de Diário de um Detento, sem saber que existia um clipe que ganhava prêmios. As lendas que rondavam a figura do Mano Brown eu só fui conhecer alguns anos depois, mas só me prendi mesmo ao lance de se preservar em relação à cobrança da mídia.
ao contrário de todos os textos que lia sobre a banda e o letrista, elevando Racionais à categoria de referência para os pobres e Mano Brown à de líder revolucionário, nunca depositei na música feita por eles esperanças de resolver os problemas. É arte, pura e simplesmente. Há o discurso, mas com o passar dos anos e dos discos, e o próprio líder admite, o radicalismo arrefeceu, dando lugar a uma postura de aceitação a todo tipo de posicionamento ("Discurso é corda para se enforcar").
o que não significa esvaziamento de conteúdo. Acho a atitude de valorização do "eu" - de que cada "mano" é um indivíduo que deve buscar em si mesmo, e não em exemplos maiores, seu diferencial e seus talentos - madura e honesta. Mano Brown se esquiva com razão e bom senso da figura de herói e "bom exemplo" ("Eu sou eu").
cinco anos depois do pirata de camelô no interior de Minas, "Nada Como Um Dia Após o Outro Dia" eu comprei original, numa loja em Guarapari. R$ 23,90. duplo. preço honesto.
#1 tudo isso pra falar da entrevista do cara no Roda Viva, agora há pouco. Inseguro no início, à vontade a ponto de sorrir do meio do programa em diante, Mano Brown revelou, durante pouco mais de uma hora e meia, suas idéias e suas contradições ("As contradições só acabam quando morre").
chamou os traficantes de comerciantes. Igualou a cachaça 51 à maconha e os traficantes aos donos da Ambev. Deixou claro seu descrédito quanto à classe média, que ele chamou de finada. E, acima de tudo, reafirmou sua arte e sua humildade ("Eu sou um cidadão. Não sou líder de nada").
25 setembro 2007
20 setembro 2007
#1 Não sei vocês, mas quando eu uso aqueles guarda-volumes de rodoviária sempre tenho a sensação de que meu parceiro no assalto descumpriu o trato, deu um jeito de arrombar o cofre e levou todo o dinheiro. Mas dessa vez (pelo menos) minha mochila continuava no mesmo lugar.
#2 Ainda no guarda-volumes, compartilhei com o vigia a minha obsessão por um Rainha Iate.
_ Onde o senhor comprou esse tênis?
_ Rapaz, não acha mais. Mas tenho um amigo, numa loja, eu ligo e ele guarda pra mim quando aparece. Trinta e nove e noventa. Eu gosto de usar para trabalhar e dirigir. Acelero até com esse aqui.
E mostra o tênis preto, já meio gasto.
_ Quando você voltar passa aqui que a gente vai lá na loja e compra.
Vou passar, seu Antônio, vou passar.
#3 Na sala de embarque de Confins tem uma Istoé largada numa mesinha entre as cadeiras. A manchete na capa? "Oh, Meu Deus! Vira, vira, vira!".
Todo mundo que passa vê e franze a testa. Olha pro lado pra se certificar de que não é um brincadeira, mas não encosta a mão.
#2 Ainda no guarda-volumes, compartilhei com o vigia a minha obsessão por um Rainha Iate.
_ Onde o senhor comprou esse tênis?
_ Rapaz, não acha mais. Mas tenho um amigo, numa loja, eu ligo e ele guarda pra mim quando aparece. Trinta e nove e noventa. Eu gosto de usar para trabalhar e dirigir. Acelero até com esse aqui.
E mostra o tênis preto, já meio gasto.
_ Quando você voltar passa aqui que a gente vai lá na loja e compra.
Vou passar, seu Antônio, vou passar.
#3 Na sala de embarque de Confins tem uma Istoé largada numa mesinha entre as cadeiras. A manchete na capa? "Oh, Meu Deus! Vira, vira, vira!".
Todo mundo que passa vê e franze a testa. Olha pro lado pra se certificar de que não é um brincadeira, mas não encosta a mão.
14 setembro 2007
metro goldwyn mayer
Não sei se nossa cidade (vitória, para que fique bem claro) será um dia servida com o meio de transporte mais eficiente e charmoso que os homens inventaram. (eles ainda não fizeram o teletransporte funcionar). mas num devaneio coletivo, escolhemos com bastante antecedência os nomes das futuras estações de metrô da cidade.
Imagina como seria legal aquela voz metálica dizendo no subsolo coisas como: estaçããão lama, e você sairia do subsolo e teria à sua frente nada mais que todos os seus amigos no Cochicho depois de um dia de trabalho desgastante.
E aí, se quisesse ir ao Centro, poderia optar pelas paradas praça oito, onde sairia de um dos lados do relógio; moscoso, e aí teria à sua frente os sobrados decaídos, da antiga zona de prostituição; ou vila rubim, que nos dias posteriores à semana santa emanaria um cheiro inigualável de palmito em decomposição.
Caso se estendesse para os municípios vizinhos, os nomes poderiam ser ainda mais lúdicos. levando em conta uma inusitada passagem submarina, seríamos brindados com uma estação azteca (em Vila Velha), ou uma roda d'água, em Cariacica.
Imagina como seria legal aquela voz metálica dizendo no subsolo coisas como: estaçããão lama, e você sairia do subsolo e teria à sua frente nada mais que todos os seus amigos no Cochicho depois de um dia de trabalho desgastante.
E aí, se quisesse ir ao Centro, poderia optar pelas paradas praça oito, onde sairia de um dos lados do relógio; moscoso, e aí teria à sua frente os sobrados decaídos, da antiga zona de prostituição; ou vila rubim, que nos dias posteriores à semana santa emanaria um cheiro inigualável de palmito em decomposição.
Caso se estendesse para os municípios vizinhos, os nomes poderiam ser ainda mais lúdicos. levando em conta uma inusitada passagem submarina, seríamos brindados com uma estação azteca (em Vila Velha), ou uma roda d'água, em Cariacica.
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