22 setembro 2011
Leia essas linhas. Não, não parei de escrever para viver, ao contrário do que imagina. Parei de viver para não escrever! Digo e espero qualquer reação. Continuo. Não me saíram as putas das letras para as ruas. Essas sim, pedras entortadas pelo tempo, pelos solados mais duros, estão a entrar cada vez mais nessa tinta. E ficam presas na fonte, molhadas de preto azul vermelho. E paro e de novo aguardo um esboço de semblante qualquer e nada. Todo o meu tempo de escrita foi manchado pelas cores da vida, moldado pelos martelos dos homens mais sujos, sujos e castos, eu os queria castos. Naquele tempo, apesar de viver eu escrevia, e podia colocar no papel cheiros da rua, de creolina minério e mijo. Sentia o suor da cidade durante o dia e recriava seus sabores quando recostava em meu leito. A cidade eram várias; eu indo de ponto a ponto, olhando para os portos como um recém-nascido, cego de luz, engasgado de vida e pronto para chorar ao primeiro tapa. Eram muitos os leitos e por mais que tentasse ocupá-los esbarrava sempre na rotina de recato e solidão consolidada, vontade de escrever e nada. Leia esse texto.
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